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Da diamba à maconha: usos e abusos da Cannabis sativa e da sua proibição no


Brasil
Por: Sergio Vidal *
Data: 09/05/2008

RESUMO:

O artigo apresenta alguns fatos históricos a respeito da planta Cannabis Sativa e seus usos
no Brasil, discutindo algumas das teses sobre sua introdução no país e as origens do seu
consumo. Também discute o processo de criminalização da planta a partir dos pontos de
vista legal e científico. Além disso, apresenta algumas das discussões recentes sobre os
erros históricos cometidos pelas delegações brasileiras nas Convenções sobre drogas de
1924 e 1961, que culminaram com o reconhecimento público desses erros, em 2004. Conclui
fazendo algumas sugestões sobre como diminuir os atuais danos do mercado ilegal da
planta.

Drogas. Cannabis Sativa. Maconha. Brasil. História. Proibição.

ABSTRACT:

The article presents some historical facts about the plant Cannabis Sativa and its uses in
Brazil, arguing some of the teses on its introduction in the country and the origins of its
Realização consumption. It also discusses the process of criminalizing the plant from the legal and
scientific point of view. Moreover, presents some of the recent discussions about the historical
errors committed by the Brazilian delegations to the Conventions on drugs in 1924 and 1961,
culminating with the public recognition of the errors, in 2004. Concludes making some
suggestions on how to reduce the damage of the current market of the illegal plant.

Drugs. Cannabis Sativa. Marijuana. Brazil. History. Forbidden.

Origens controversas de uma planta trans-cultural

Durante muito tempo a historiografia brasileira sobre os usos da planta Cannabis sativa no
país, em geral, afirmava que suas origens eram exclusivamente africanas e que seu cultivo
teria sido introduzido com a chegada dos primeiros escravos. De fato, muitos dos africanos
trazidos como escravos mantiveram seus costumes de utilização da planta, considerando-a
um vegetal especial, uma planta-professora, dotada de características mágicas e
propriedades curativas. De fato, antes do descobrimento do Brasil, diversas etnias e nações
do continente africano conheciam a planta e utilizavam-na para uma ampla variedade de fins.
Os principais usos eram relacionados com a extração das fibras vegetais, o preparo de
medicamentos ou ligados ao seu consumo fumado em rituais religioso e reuniões sociais. No
entanto, a tese de que os negros seriam os únicos responsáveis pela introdução do cultivo e
consumo de maconha no Brasil não se sustenta a uma observação mais cuidadosa.

Os senhores-de-engenho, proprietários dos escravos e de toda estrutura produtiva das


fazendas de cana-de-açúcar, principal agro-negócio da economia brasileira do séc. XVI até
meados do séc. XVIII, toleravam a utilização do fumo de cannabis e tabaco. O sociólogo
Gilberto Freyre chega a afirmar que “não parece simples coincidência que se surpreendam
tantas manchas escuras de tabaco ou de maconha entre o verde-claro dos canaviais”,
sugerindo que teria havido “evidente tolerância – quando não mais do que tolerância – para a
cultura dessas plantas voluptuosas” (Freyre; 1985). Ainda segundo essa teoria, as
denominações usadas no Brasil para a planta, tais como liamba¸ diamba, riamba, cangonha,
pango, gongo, bengue, birra, dirigio, soruma, fumo-de-angola, também confirmariam as
origens da maconha brasileira (Mott, 1986; Bucher, 1995). Porém, esses dados não são
suficientes para sustentar a afirmação de que os escravos foram os grandes introdutores no
Brasil do hábito de plantar e usar maconha. De fato, eles apenas revelam a heterogeneidade
étnica existente, representativa das diferentes culturas no continente africano que faziam uso
da planta.

Certamente os colonizadores, agentes do Império Lusitano, já estavam habituados desde o


período denominado Expansão Marítima ao relacionamento com diferentes culturas que

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utilizavam a planta. Além de conhecerem os usos lúdicos e medicinais de sua resina a partir
do seu contato com populações de países asiáticos e africanos, onde mantinham outras
colônias e relações econômicas e políticas, reconheciam e usufruíam principalmente das
utilidades de suas fibras. Denominada na Europa mais comumente de linho-cânhamo, ou
somente cânhamo, as fibras da planta eram amplamente utilizadas na indústria têxtil e
reconhecidamente um dos produtos centrais à economia da época. (Herer, 1985; Booth,
2003).

Os navios que compunham a esquadra que aportaram no continente em 1500 comandada


por Pedro Alvarez Cabral, tinham toneladas de fibras de cânhamo na composição de suas
velas, cordas e até mesmo na vestimenta da tripulação (Robinson, 1999). Em 1783, o
Império Lusitano instalou no Brasil a Real Feitoria do Linho-cânhamo (RFLC), uma
importante iniciativa oficial de cultivo da planta para fins comerciais. Nessa época, a
demanda por produtos à base das fibras da Cannabis era alta em toda a Europa e muitos
produtores não conseguiam atender essas demandas, enquanto muitos procuravam entrar
no negócio na tentativa de aproveitar a oportunidade de lucro. Ao mesmo tempo, o Império
Lusitano buscava alternativas de produção que pudessem fortalecer a economia, uma vez
que as culturas como o açúcar, estavam cada vez mais enfraquecidas. Para isso a Coroa
concentrou sua atenção para o estudo, importação e cultivo de espécies vegetais de
importância econômica cultivadas nas colônias que ainda lhes restava na África e Ásia, para
tentar tornar o Brasil sua nova fonte de especiarias e outros produtos de origem natural.

As primeiras fazendas e benfeitorias foram instaladas no sul do país, em regiões que


atualmente pertencem ao estado do Rio Grande do Sul. A partir daí, o Estado passou a
importar sementes da Índia e Europa, traduzir manuais de cultivo e produção e investir na
adaptação climática de variedades da planta. Os Hortos Botânicos Imperiais passaram a
trabalhar selecionando as gerações das plantas mais adaptadas e enviando relatórios
entusiasmados sobre o desempenho das plantas em solo nacional. Dessa forma, podemos
afirmar que “o assunto era importante e, ao nível estratégico, interessava ao príncipe D.
João, a dois vice-reis e a dois governadores do Continente. O linho-cânhamo era para a
navegação o que hoje é o petróleo. E Portugal procurava ficar independente da Inglaterra,
daí a importância que teve o empreendimento de 1783-89”. (Bento, 1992; 13).

Laura Carvalho, historiadora que atualmente participa de um levantamento bibliográfico,


documental e audiovisual sobre a história da planta no país, completa afirmando que, ainda
que os documentos encontrados até o momento precisem ser melhor analisados antes de
qualquer conclusão, eles nos fazem pensar que Portugal tinha todo interesse que o
empreendimento obtivesse sucesso e investia alto para que isso ocorresse. Existem muitos
indícios de que a Coroa financiou a introdução e adaptação climática da espécie em Hortos
em estados como o Pará, Amazônia, Maranhão, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia.
No entanto, tudo leva a crer que muitos outros empreendimentos do tipo surgiram a exemplo
da experiência da Real Feitoria, até mesmo de iniciativa privada e esses teriam persistido até
a proibição do cultivo da planta, na década de 1930, com maior ou menor êxito econômico.

Apesar dos dados históricos apontarem que as contribuições dos descendentes de africanos
para o patrimônio genético da cannabis brasileira sejam bem antigas, tudo indica que as
contribuições dos colonizadores também o sejam. A introdução e manutenção das
variedades de Cannabis de origem africana no país seguiram a mesma lógica de outros
aspectos da vida das populações de escravos e ex-escravos, estando restritas às
determinações das elites econômicas, sociais e políticas. Além disso, o historiador Henrique
Carneiro sugere que nada nos autoriza a afirmar que as primeiras plantas cultivadas sejam
de sementes africanas, afirmando que talvez tenha sido algum marinheiro português o
primeiro a trazer para o país as sementes (Carneiro, 2006). Até mesmo o uso de cachimbos
d’água, principal técnica utilizada para fumar a erva até a primeira metade do séc. XX, teria
sido introduzido pelos portugueses que teriam trazido o hábito das culturas canábicas com as
quais tiveram contato na Índia, principalmente em Goa. (Booth, op. cit.: 157).

Foram, portanto, os colonizadores quem tiveram condições materiais tanto para decidir de
que maneira era possível às populações marginalizadas consumirem a planta, como para
promover empreendimentos de cultivo e comércio, quando lhes foi de interesse. Além disso,
foram os empreendimentos oficialmente apoiados pela Coroa e iniciativas privadas de elites
rurais, os grandes responsáveis pela introdução e adaptação em larga escala de diferentes
variedades da planta a partir do séc. XVIII. Disso tudo, podemos apenas concluir que as
características atuais das variedades de cannabis existentes no Brasil são fruto de um
processo bastante complexo e multifacetado, envolvendo diversos atores sociais em

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períodos históricos diferentes.

Da Macumba à Maconha - A criminalização da Cannabis no Brasil

Os primeiros documentos de que se tem conhecimento proibindo o uso da maconha no Brasil


foram posturas das Câmaras Municipais do Rio de Janeiro (1830), Santos (1870) e Campinas
(1876), penalizando a venda e o uso do “pito do pango”, sem, no entanto, obter quaisquer
repercussões significativas. As posturas tinham um ordenamento curiosamente inverso ao
atual, prevendo punições mais severas para as condutas de uso do que para as condutas de
tráfico, sugerindo que, desde essa época, a intenção de usar as leis antidrogas como forma
de controlar as populações que faziam uso já existia. Apesar dos anseios legislativos de
controlar tais condutas, nascidos já no séc. XIX, foi somente no início do século XX, com a
intensificação do processo de urbanização, que o hábito ganhou maior visibilidade entre os
habitantes das zonas urbanas passando a ser considerado um problema e a figurar entre as
preocupações do Estado.

Mesmo com uma ampla utilização como matéria-prima de uma variedade de tipos de tecido,
principalmente pelas populações ligadas às elites econômicas e sociais, a imagem da planta
ficou marcada permanente por sua associação com o uso por parte das populações pobres,
negras e indígenas. Até o final do séc. XIX e das primeiras décadas do séc. XX, a planta era
amplamente difundida nas regiões norte e nordeste do país, sendo consumida por ex-
escravos, mestiços, grupos indígenas, principalmente nas zonas rurais. Com o avanço do
processo de urbanização, as populações imigrantes passam a ser vistas como fonte de
problemas sociais e sanitários. Os hábitos de consumo e higiene desses grupos passaram a
ser objeto de estudo e controle das instituições e autoridades médicas e sanitárias. São
criadas delegacias e outras instituições específicas para tratar do assunto, a exemplo da
Inspetoria de Entorpecentes, Tóxicos e Mistificações, também responsável pela repressão às
práticas religiosas de origem africana, afro-brasileira e afro-indígenas, em geral consideradas
‘feitiçaria’, ‘curandeirismo’ ou ‘magia-negra’.

Apesar de receber diversas denominações, atualmente a erva é designada apenas como


maconha, nome que tem origem na palavra ma’kaña da etnia africana denominada
quibundos. Essa associação ganhou força a partir da década de 1940, quando a imprensa
marrom passou a propagandear a associação entre a maconha, a criminalidade e a feitiçaria.
Nessa época também se consolidou a expressão ‘maconheiro’ para designar à pessoa que
fumava a planta (Cardoso, 1994). Eram comuns notícias relatando as violências das
“gangues de maconheiros, que ajudavam a reafirmar o conteúdo negativo da palavra, misto
dos estigmas de criminoso, doente mental e macumbeiro (outra palavra do quibundo,
utilizada para designar pejorativamente as pessoas que exerciam práticas religiosas de
origens africanas, indígenas ou sincréticas, que também mesclavam elementos do
catolicismo popular ibérico).

A partir de 1910, cientistas como Rodrigues Dória e Francisco Iglesias passaram a divulgar e
descrever em artigos e congressos científicos internacionais suas teorias relacionando o
comportamento “natural” das populações de origem africana com os efeitos farmacológicos
da Cannabis. Segundo essa teoria, a maconha causaria em seus consumidores
“degeneração mental e moral”, “analgesia/entorpecimento”, “vício/compulsão”, “loucura,
psicose e crime”. Esses efeitos seriam os responsáveis pelo comportamento atribuído por
esses cientistas como natural à população negra, que seria caracterizado pela “ignorância”,
“resistência física”, “intemperança”, “fetichismo” e “criminalidade”. Essas idéias floresceram e
se difundiram facilmente no ambiente acadêmico da época, quando muitos dos conceitos
ligados às teses eugênicas vigoravam o auge de sua influência nos meios científicos do país.
A tese foi aceita com bastante sucesso entre o meio acadêmico, na sociedade em geral, em
nível nacional e internacional. As posições do Dr. Dória e seus seguidores sobre o que ele
chamou de ‘a vingança dos vencidos’ podem ser resumidas no trecho que encerra sua
comunicação no Segundo Congresso Científico Pan-americano, realizado em Washington,
1915:

“A raça preta, selvagem e ignorante, resistente, mas intemperante, se em determinadas


circunstâncias prestou grandes serviços aos brancos, seus irmãos mais adiantados em
civilização, dando-lhes, pelo seu trabalho corporal, fortuna e comodidades, estragando o
robusto organismo no vício de fumar a erva maravilhosa, que, nos êxtases fantásticos, lhe
faria rever talvez as areais ardentes e os desertos sem fim de sua adorada e saudosa pátria,
inoculou também o mal nos que o afastaram da terra querida, lhe roubaram a liberdade
preciosa, e lhe sugaram a seiva reconstrutiva”. (Dória, 1915;37)

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Esse processo da construção de um discurso científico impregnado de categorias racistas é


análogo ao ocorrido nos EUA com as populações de origem mexicana. A partir daí, as
práticas e representações sobre o uso, plantio e preparo de Cannabis, tradicionalmente
transmitidas e socialmente validadas através das diversas gerações de brasileiros que a
consumiram, passaram então a ser oficialmente desqualificadas e ter sua legitimidade
questionada (Macrae e Simões, 2000). Dessa forma, é como “veneno social”, “doença
cultural”, transmissível de população para população, que o hábito de consumir Cannabis é
introduzido nos meios científicos e é por ele pensado. Interpretadas como sintomas de uma
“psicose hetero-tóxica” e compreendidas a partir das categorias “maconhismo” ou
“canabismo”, essas práticas passam a ser objeto de estudos e pesquisas em grande parte
fomentadas ou promovidas pelas autoridades oficialmente legitimadas sobre o assunto, as
mesmas que compraram facilmente o discurso dos “venenos sociais”. (Adiala, 1986; 2006).

Em 1921, o Brasil se alinha às recomendações dos EUA, seu principal aliado comercial e
político, aderindo aos acordos firmados na reunião da Liga das Nações Unidas. As
autoridades legislativas brasileiras promulgam a Lei Federal nº 4.294, incorporando à norma
interna o documento do acordo internacional, reafirmando suas intenções proibicionistas.
Com essa lei o país estabelece os primeiros passos para a burocratização da repressão e do
controle das substâncias proscritas. Essa norma previa encarceramento para os
comerciantes não-autorizados, mas interpretava os consumidores como doentes, vítimas das
substâncias, prevendo para eles tratamento compulsório. Apesar dos esforços das
autoridades ligadas ao aparelho de repressão estatal, o ordenamento jurídico brasileiro em
relação ao tema só voltaria a sofrer alterações significativas na década de 1930, período de
promulgação de uma nova constituição.

Em 1924, mais de 100 países enviaram delegações para reafirmar as discussões sobre coca
e ópio, que já vinham ocorrendo desde as reuniões de 1909, 1911, 1912 e 1921. Em todas as
Reuniões, nenhuma menção à cannabis havia sido realizada até, que em 1924, El Guindy, o
representante do Egito, trouxe à tona suas inquietações sobre o que ele considerava os
graves problemas e perigos do haxixe, exigindo a inclusão da planta na lista de substâncias
proscritas. Após muita insistência de El Guindy e apoio brasileiro, o Conselho decide formar
uma subcomissão para discutir o tema, composta por especialistas da Grã-Bretanha, Índia,
França, Grécia, Egito e Brasil, este último representado pelo Dr. Pedro Pernambuco,
discípulo do Dr. Dória. Durante os trabalhos, os representantes da Grécia, Brasil e Egito
pressionaram para que o relatório exigisse controles para a Cannabis equivalente aos do
ópio e destacasse os perigos da planta. O Sr. Pernambuco aproveita para dar sua
contribuição à história da proibição internacional da cannabis, apresentando as teses
brasileiras a respeito da associação entre a cannabis e a papoula, uma vez que, no Brasil,
segundo ele e os cientistas racistas que o orientaram, haveriam tantos problemas
relacionados com a maconha entre os negros que a ‘planta da loucura’ seria mais perigosa e
causaria mais danos do que o ópio no oriente. (Mills, 2003; 152-187)

Com essa vitória em nível internacional das autoridades proibicionistas brasileiras, o próximo
passo seria a inclusão da planta como substância proscrita no país e a promoção de uma
campanha para erradicação do seu cultivo e consumo. Em 1932, a planta foi incluída na lista
de substâncias proscritas sob a denominação de Cannabis.. Em 1934, foi promulgada a nova
constituição em meio a muitas agitações políticas e sociais e um ano depois, o Poder
Executivo decretou a Lei de Segurança Nacional, através da qual passa a vigorar um Estado
de Exceção, com restrições às liberdades individuais e direitos constitucionais. O país vivia
um clima de estado de sítio e em 1937, o então presidente Getúlio Vargas fechou o
Congresso, prendeu parlamentares e decretou o estabelecimento de uma ditadura que
vigoraria até 1945, e que ficou conhecida como Estado Novo.

Em 1938, um ano após a criação do Estado Novo, o Poder Executivo publicou o Decreto-Lei
n. 891, cujas principais contribuições ao aparelho repressor proibicionista foram: 1)
regulamentação e definição das atribuições da Comissão Nacional de Fiscalização de
Entorpecentes (CNFE), criada em 1936; 2) estabelecimento de penalidades de
encarceramento para condenados por uso, porte ou plantio para consumo pessoal. A lei que
concebeu a CNFE passou a dar margem para que outras instituições fossem formadas
especificamente para tratar das questões relacionadas ao consumo e comércio das
substâncias, que passaram a ser chamadas genericamente de “entorpecentes”. A partir daí,
houve um crescimento do número de delegacias, departamentos de polícias, clínicas e outros
órgãos e instituições que passaram a ter como principal atividade designar aos usuários das
substâncias psicoativas tornadas ilícitas um tratamento burocrático-legal.

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A CNFE surgiu para centralizar todos os esforços antidrogas em uma só agência Federal. A
Cannabis e seus usuários entraram nesse processo como o elo simbólico de caráter nacional
que faltava para a unificação das iniciativas de combate às drogas. Como planta psicoativa
de uso bastante difundido em todo território brasileiro, a maconha se transforma no
estandarte unificador dessas iniciativas, servindo como justificativa para a promoção das
“medidas enérgicas de profilaxia” recomendadas pelos ‘especialistas’.

Em 1943, uma expedição científica é destaca para visitar comunidades onde se fazia uso nos
estados da Bahia, Sergipe e Alagoas, principalmente nos povoados às margens do Rio São
Francisco. Ao término da expedição um relatório é encaminhado à CNFE alertando que a
planta era cultivada e consumida principalmente entre as “classes baixas”, mas que na Bahia,
o uso também ocorria nas “classes altas”. A grande maioria dos cultivadores visitados
desconhecia a proibição da planta, que era vendida livremente por mateiros e herboristas nas
feiras livres sob a denominação de ‘fumo bravo’. O relatório então recomendava que a CNFE
promovesse uma intensa campanha mostrando os ‘malefícios do cultivo e do uso da
maconha’ e que buscasse maior articulação entre os diversos Estados da Nação.

Após essa primeira inspeção de campo, a CNFE promoveu o Convênio Interestadual da


Maconha, em 1946, reunindo representantes das Comissões de Fiscalização de
Entorpecentes dos estados da Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco.

Após dezenas de palestras e outras exposições de especialistas agrônomos, médicos e


autoridades policiais, os trabalhos foram encerrados com a publicação do Relatório Final,
redigido pelo Dr. Pernambuco, e com o lançamento da Campanha Nacional de Repressão ao
Uso e Comércio da Maconha. O Relatório estabelecia as seguintes normas a serem seguidas
em todo o Território Nacional:

1. Planejar ações e padronização de estudos visando à promoção de uma intensa campanha


educativa contra o uso e plantio;

2. Organizar cursos práticos para as autoridades policiais e sanitárias visando ampliar os


seus conhecimentos sobre a botânica e os ‘males’ da planta, facilitando o trabalho de
identificação dos “criminosos e viciados”;

3. Estimular a classe médica a promover estudos sobre os ‘males’ da maconha e sobre as


características dos usuários;

4. Promover a inclusão do tema nos congressos e reuniões de psiquiatria;

5. Incentivar a cooperação e articulação entre as Comissões de Fiscalização dos estados


onde o uso e plantio seriam disseminados – Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Piauí,
Maranhão, Pará e Amazonas – promovendo o estabelecimento de convênios e a
obrigatoriedade do intercâmbio de todo tipo de informações (relatórios, dados estatísticos,
fichas criminais, etc.);

6. Destruir todas as plantações de maconha encontradas;

7. Criar nos Departamentos de Segurança Pública, em nível federal e estadual, órgãos


especializados na repressão e combate ao uso;

8. Registro dos cultos afro-brasileiros onde se faz uso da planta, a partir de fontes médicas e
sociológicas, e encaminhamento dos dados às autoridades responsáveis;

9. Estabelecimento de gratificações aos membros das Comissões de Fiscalização de


Entorpecentes do país, “em vista dos extraordinários serviços prestados por eles à
sociedade”. (CNFE, 1951; 239).

Em 1951, o Ministério da Educação e Saúde publica a primeira edição dos trabalhos


apresentados no Convênio Interestadual da Maconha, incluindo o Relatório Final. Em 1958 é
publicada uma segunda edição, ilustrada e revisada. Entre o Decreto-Lei de 1938 e o final da
década de 1960, não é difícil imaginar os níveis de repressão atingidos pelo aparato estatal
montado para essa função específica. Mais de quatro décadas foram dedicadas à
erradicação da planta e ao controle dos hábitos das populações que a utilizavam,
principalmente pobres, negros e nordestinos. Nesse período, entre os trabalhos do Dr. Dória
(1915) e a 2ª edição dos trabalhos do Convênio, diversos discursos técnicos e científicos
foram manipulados e apropriados indevidamente para justificar a escalada proibicionista.

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Em 1959, a fim de conhecer os reais perigos da maconha brasileira, a Comissão Nacional de


Fiscalização de Entorpecentes resolve preparar uma revisão bibliográfica de todas as
pesquisas produzidas até o momento no Brasil, não apenas aquelas utilizadas para justificar
a repressão, e encomenda um relatório ao Dr. Décio Parreiras. Este recebe pareceres e
opiniões de técnicos das seguintes instituições: Secretaria da Agricultura de Sergipe;
Sociedade Maranhense de Agricultura; Serviço Florestal do Brasil; Ministério da Agricultura;
Instituto Vital Brasil; Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro; Faculdade de Medicina do
Recife; Instituto de Pesquisas Agronômicas de Pernambuco; Hospital Juliano Moreira;
Sociedade de Medicina Legal, Criminologia e Psiquiatria da Bahia; Faculdade de Medicina de
São Paulo; Instituto Médico Legal de São Paulo; Serviço Nacional de Fiscalização da
Medicina; Sanatório Botafogo do Rio de Janeiro; Serviço de Assistência a Psicopatas de
Sergipe; Departamento Nacional de Saúde; Jardim Botânico do Rio de Janeiro e Academia
Nacional de Medicina (Parreiras, 1959).

O relatório serviria para embasar o posicionamento da delegação brasileira na Convenção


Única de Entorpecentes, realizada em 1961, em Nova York, no qual seria decidido se as
discussões sobre a maconha realizadas a partir da solicitação brasileira em 1924 iriam
resultar na proibição internacional da planta. O trabalho fez uma densa descrição das
características botânicas, farmacológicas e históricas da planta, do seu uso e da produção
cientifica sobre esses temas no Brasil. O relatório conclui afirmando que a produção cientifica
do país não autorizava ninguém a falar em dependência ou toxicomania de maconha, termo
utilizado na época, mas no máximo em hábito. Em outras palavras, os limites entre o que é
um hábito condenado moralmente e uma dependência é muito tênue e por vezes é definido a
partir de critérios não-científicos e sim políticos ou ideológicos. As autoridades brasileiras
ignoram completamente o relatório, suas conclusões e recomendações. Além disso, a
delegação brasileira em 1961 reafirma os perigos alarmistas sobre a planta e exige restrições
equivalentes às do ópio. Em 1964 dezenas de países, inclusive o Brasil, assinam a
Convenção Única de Narcóticos, na qual a Cannabis passa a constar nas listas I e IV.

Em 1964, o governo brasileiro ignora mais uma vez esse relatório e publica o Decreto-Lei nº
54.216, incorporando ao ordenamento interno do país os acordos firmados na Convenção
Única de 1961. Em 1968, um novo Decreto passa a estabelecer equivalência penal entre
condenados por tráfico e por uso. Mas a grande inovação seria trazida com a lei de 1976,
conhecida como Lei de Tóxicos, que passou a reunir todos os ordenamentos jurídicos
relacionados com o tema em apenas um documento. Os poderes de repressão do Estado em
relação ao uso da maconha então ganham novas dimensões e, na prática, passam a
marginalizar ainda mais os consumidores, submetendo-os a violência e arbitrariedades
maiores que antes. Um exemplo de uma das principais aberrações dessa legislação é a
tipificação do crime de ‘apologia ao uso de drogas’, que também tornaria possível a
condenação de qualquer um que falasse dos aspectos positivos de uma substância ou da
sua liberação, mesmo que não fosse traficante nem consumidor, até mesmo se fosse um
especialista sobre o tema.

No entanto, a partir da segunda metade da década de 1960 fumar maconha deixa de ser
apenas hábito de negros, pobres e marginalizados (se é que algum dia esteve restrito apenas
a esses grupos), para ser cada vez mais consumida nas classes médias e altas. Os ‘inimigos’
da saúde pública, da moral e dos bons costumes deixavam então de ser habitantes das
favelas e dos estados do Norte e Nordeste, para serem os jovens adeptos da contracultura,
do movimento hippie, das experimentações psicodélicas e de outras manifestações culturais
alternativas.

A Maconha no Brasil da “Abertura”

Se por um lado, a partir da década de 1940 aumentou a repressão à produção e uso da


maconha devido à maior organização e empenho por parte das instituições criadas para
reprimir tais práticas e pela criação de Leis ainda mais severas, por outro, a partir da década
de 1970 o hábito de consumir a planta aos poucos deixou de ser tão estigmatizado pela
sociedade em geral.

Desde a década de 1980 que o uso da maconha passou a ser mais tolerado na sociedade
brasileira e a partir de 1986, estudantes, artistas e intelectuais passaram a promover debates,
passeatas e outras manifestações pela legalização da planta. Na década de 1990, as
discussões sobre legalização se restringiram a manifestações artísticas isoladas como as do
grupo musical Planet Hemp, que ficaram uma semana presos por cantarem músicas pró-
legalização, e iniciativas pontuais como as do político Fernando Gabeira. Porém, 1986

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também ficou marcado como o ano em que a repressão ao consumo da planta alcançou
novos patamares. O número de operações de erradicação de cultivo cresceu
exponencialmente, principalmente no estado do Maranhão, onde a repressão se concentrou
nas aldeias dos Guajajara. Essas operações conseguiram apenas determinar a migração das
atividades de cultivo comercial em larga-escala que passaram também a se proliferar em
outros estados do nordeste com histórico de utilização da planta (Iulianelli, et. al., 2006).

No início da década de 2000, os espaços de discussão que surgiram na internet


possibilitaram que os usuários tivessem acesso às informações e discussões sobre o tema
que estava ocorrendo em outras partes do mundo. Desde 2003, vêem sendo realizadas
passeatas e outras manifestações pela legalização no Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador,
Recife e em diversas outras capitais do país, organizadas e divulgadas totalmente pela
internet.

Em 2004, poucos meses antes da Passeata Verde ter sido violentamente reprimida por
reclamar reformas nas leis sobre a maconha, ocorreu o Seminário Cannabis sativa L. e
Substâncias Canabinóides em Medicina, organizado pela Secretaria Nacional Antidrogas –
SENAD e pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas – CEBRID, onde
estavam presentes os maiores especialistas e autoridades políticas e científicas do país e
alguns convidados de países como Holanda, E.U.A. e Canadá. Apesar de não ter como foco
os aspectos históricos e políticos da criminalização da maconha no Brasil ou no mundo - já
que a maioria das exposições se referia a pesquisas e experiências atuais sobre as
potencialidades da Cannabis e dos seus princípios ativos enquanto medicamento e as
experiências existentes atualmente de prescrição e distribuição dos derivados da planta para
uso médico em diferentes países - foram debatidos três assuntos muito importantes para
entender o cenário atual a respeito das políticas e da produção científica sobre a maconha:

1) Foram discutidos alguns aspectos dos erros históricos cometidos pela delegação brasileira
na reunião da Liga das Nações em 1924, quando o representante brasileiro Dr. Pedro
Pernambuco Filho, contrariando a maioria das pesquisas científicas sobre o tema, inclusive
as suas próprias, defendeu que a maconha no Brasil causava mais danos que o ópio no
oriente e que por isso deveria ter o mesmo rigor no controle. Foi exposto que esses erros
históricos da delegação brasileira possivelmente foram a causa da interpretação incorreta
dos reais perigos da maconha tanto por parte das autoridades brasileiras, que intensificaram
a repressão amparadas nos acordos internacionais, quanto por parte das autoridades dos
outros países, que entenderam que uma informação desse tipo vindo de um país onde
muitas pessoas usavam maconha não poderia ter sido manipulada e acreditaram que a
maconha era muito perigosa, aprovando a realização de discussões sobre sua equiparação
ao ópio;

2) Foi denunciado que essa “demonização” histórica da planta Cannabis sativa atrapalhou e
ainda atrapalha muito a realização de pesquisas científicas, a utilização médica e terapêutica
e os usos industriais dos derivados da planta, e que possivelmente ajudou no processo de
inclusão da planta Cannabis sativa na categoria de drogas com alto risco e sem nenhum
potencial médico, Lista IV da Convenção de 1961;

3) Foram convidados para participar do Seminário e para expor pareceres a respeito da


questão “Deve ou não a Cannabis sativa permanecer na Lista IV da Convenção da ONU”, as
seguintes instituições: Associação Brasileira de Antropologia (ABA), Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB), do Ministério da Saúde, Secretaria Nacional Antidrogas, da Associação
Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (ABEAD), da Associação Brasileira de
Psiquiatria (ABP) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Diante da gravidade dos fatos expostos, excluíndo a ABA que não respondeu ao convite nem
foi ao Seminário, a ABEAD que votou contra e a OAB-SP que se absteve, todas as
instituições redigiram pareceres favoráveis ao encaminhamento de uma petição à ONU pela
retirada da Cannabis da Lista IV e denúncia dos erros cometidos pelo Brasil em 1924 e em
1961. A SENAD expôs quais os caminhos que precisariam ser percorridos dentro da
burocracia legal do país e da ONU para a realização da tarefa e um parecer foi encomendado
à Câmara de Assessoramento Técnico Científico (CATC), que o redigiu e encaminhou ao
Conselho Nacional Antidrogas (CONAD). O processo estava em andamento até o início da
reestruturação do CONAD, realizado através do Decreto 5.912, que entrou em vigor em
outubro de 2006 junto com a Lei 11.343, quando voltou a estagnar.

Em outubro do ano passado entrou em vigor a nova lei, ainda antidrogas, nº 11.343,

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estabelecendo uma série de avanços para a situação dos consumidores de drogas. A


principal melhoria é a retirada da pena de encarceramento para quem portar ou cultivar uma
pequena quantidade destinada ao consumo próprio. O encarceramento é substituído por uma
medida alternativa que pode ser: 1) advertência sobre os efeitos das drogas; 2) prestação de
serviços à comunidade; medida educativa de comparecimento a programa ou curso
educativo. No entanto, as ambigüidades da nova lei vão revelam que suas intenções não são
de admitir aos cidadãos o direito de consumir drogas e sim de dar uma aparência um pouco
mais moderna ao ordenamento jurídico. Um exemplo é a pena prevista de um ano de
encarceramento para o crime de “Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a
pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem”. As contradições internas da
legislação são tantas que além de manterem todo e qualquer uso na criminalidade, ainda cria
distorções como penas de restrição da liberdade para o consumo em contextos sociais e
penas não-restritivas para o consumo solitário, indo de encontro às atuais recomendações de
especialistas em Redução de Danos que afirmam que o uso social é uma das formas de criar
regras e normas de conduta que protejam a saúde do indivíduo (Macrae, 2006).

Com esse artigo procuramos esclarecer alguns pontos a respeito da história do uso e da
proibição da cannabis no Brasil. Contudo, sabemos que muitos aspectos ficaram de fora e
principalmente que os detalhes sobre cada um dos períodos históricos citados nesse texto
ainda precisa ser mais pesquisado, descritos e analisados. No entanto, acreditamos ser essa
uma contribuição importante para enriquecer a compreensão de alguns pontos a respeito
dessa História e do papel do Brasil no processo de criminalização internacional da maconha.

É importante lembrar que, ainda que a perseguição a grupos minoritários e a utilização


política da proibição como mecanismo de controle sobre esses grupos guardem analogias
com o ocorrido em outros países, a exemplo dos EUA, cada processo guarda suas
especificidades e precisa ser compreendido dentro dos seus próprios contextos. Como
vimos, o Brasil empreendeu sua própria campanha anti-maconha e até mesmo contou com
versões tupiniquins dos czares antidrogas (Dr. Pedro Pernambuco, Dr. Décio Parreiras e
outros).

Apesar de ter sido reconhecido publicamente que houve um erro histórico nas motivações
que levaram à construção do primeiro Decreto-Lei, de 1932 - proibindo a planta e por
conseqüência todos os outros -, não houve qualquer alteração no cenário das discussões
sobre o tema. Apesar de haver pareceres de algumas das mais sérias instituições do país
recomendando a retirada da Cannabis Sativa da Lista IV da Convenção da ONU e sugerindo
que o governo brasileiro denuncie os erros cometidos por suas delegações no passado e
adote uma postura coerente com esses novos dados, sobre fatos históricos não tão novos,
nada mudou.

Restaram de toda essa discussão alguns questionamentos em aberto: Será que ainda faltam
pesquisas sobre a planta e seu uso? Será que faltam mais discussões e pareceres técnicos
de instituições sérias e respeitadas sobre o tema? Será que faltam mais informações
históricas sobre a proibição e os abusos cometidos em seu nome? Ou o que falta mesmo é
atitude política para além de divulgar melhor esses fatos, buscar corrigir e admitir os erros
das pessoas que usaram seus cargos públicos de forma indevida décadas atrás? Seja lá o
que for, a única certeza é a de que falta alguma coisa importante nessa história e que muitas
pessoas têm sofrido as conseqüências disso.

Esperamos ter podido trazer alguns dados e informações importantes sobre o atual status
legal da Cannabis e das práticas de uso e cultivo para consumo pessoal que possam ajudar
a produzir reflexões a respeito da realidade brasileira e das possibilidades de transformá-la
através de processos que, verdadeiramente, melhorem a qualidade de vida das pessoas,
sejam elas consumidoras ou não de Cannabis e derivados, reduzindo os custos da
administração pública e da violência associados ao mercado criminalizado. Só nos resta
deixar algumas recomendações que poderiam ajudar a acelerar a implantação desse tipo de
política na realidade brasileira:

1. Promoção de debates, palestras e outras iniciativas de cunho informativo sobre a nova


lei n. 11.343, o histórico de Leis brasileiras e internacionais, a interpretação oficial da UNODC
sobre as Convenções da ONU e sobre as possibilidades da regulamentação do cultivo não-
comercial de Cannabis, destinados a todas as pessoas ligadas ao SISNAD e outros cidadãos
interessados no tema;

2. Dar seguimento ao envio da petição pela retirada da Cannabis sativa da Cédula IV, da

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Convenção de 1961, em reconhecimento dos erros históricos cometidos pela delegação


brasileira, em 1924, conforme o processo iniciado em 2004 pela Secretaria Nacional
Antidrogas (SENAD). (CARLINI et. al., 2004);

3. Estabelecimento de parcerias com os governos dos países que têm adotado uma
interpretação mais flexível das Convenções da ONU, promovendo o intercâmbio de
experiências, dados e informações a respeito de políticas sobre drogas;

4. Estabelecimento de parcerias com instituições de pesquisas, nesses países, para a


promoção de estudos comparativos sobre a viabilidade da aplicação dessas políticas, no
Brasil;

5. Fomento e incentivo para realização de pesquisas que tenham como objetivo analisar a
implantação da Lei nº 11.343 e seus impactos na sociedade, assim como o funcionamento
dos diferentes setores do SISNAD;

6. Incentivo a grupos de pessoas e instituições para criação de espaços de convivência,


mesmo que em ambiente on-line, para compartilhamento de experiências e informações,
sempre atentando para a criação de espaços de diálogo entre as pessoas que usam
Cannabis ou outras drogas e o Sistema Único de Saúde (SUS);

7. Promoção de estudo, sob coordenação do Conselho Nacional Antidrogas (CONAD),


sobre as possibilidades de implantação de modelos de regulamentação da posse, aquisição
e cultivo para consumo próprio, a exemplo do Office of Medicinal Cannabis, na Holanda, dos
Medical Clubs nos EUA ou dos Cannabis Social Clubs;

8. Fortalecimento do diálogo com os grupos, comunidades, associações e outros coletivos


de pessoas que usam Cannabis e outras drogas, buscando entender as demandas e as
necessidades específicas dessas populações.

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Rio de Janeiro: Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, 1986. (Estudos, n.52).

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* Coordenador da Associação Interdisciplinar de Estudos sobre plantas Cannabaceae


(Ananda); Pesquisador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (NEIP) e
do Grupo Interdisciplinar de Estudos sobre Substâncias Psicoativas (GIESP)/UFBA.
(sergiociso@yahoo.com.br)

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