Foto: Marcelo Casal Jr/Agencia Brasil
Foto: Marcelo Casal Jr/Agencia Brasil

Quilombolas da microrregião de Santana do Ipanema (AL) recebem vacina contra Covid-19

Prioridade no calendário nacional de imunização, 31% do público-alvo já recebeu a primeira dose e a vacinação continua

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Quilombolas da microrregião de Santana do Ipanema, em Alagoas, estão sendo imunizados contra a Covid-19. A região é composta pelos municípios de São José da Tapera, Pão de Açúcar, Poço das Trincheiras, Senador Rui Palmeira, Ouro Branco, Dois Riachos, Maravilha, Carneiros, Palestina, além da cidade de Santana do Ipanema, que juntos concentram 8.231 indivíduos autodeclarados descendentes e remanescentes de escravizados, segundo o Instituto de Geografia e Estatísticas (IBGE). 



De acordo com o Ministério da Saúde, 2.698 quilombolas dessa microrregião tomaram a primeira dose da vacina, o que representa cerca de 31,2% do público-alvo. Por enquanto, apenas cinco pessoas receberam a dose de reforço do imunizante.

Quadro: Número de quilombolas vacinados Microrregião de Santana do Ipanema, segundo o Ministério da Saúde: 

Município 1ª Dose 2ª Dose
Santana do Ipanema 99 0
São José da Tapera 552 1
Palestina 472 2
Carneiros 130 0
Maravilha Nenhuma dose aplicada Nenhuma dose aplicada
Ouro Branco Nenhuma dose aplicada Nenhuma dose aplicada
Dois Riachos 108 0
Pão de Açúcar 247 0
Poço das Trincheiras 958 2
Senador Rui Palmeira 132 0


A coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, Francieli Fantinato, explica a importância da vacina nos grupos prioritários. “As comunidades quilombolas são populações que vivem em situação de vulnerabilidade social. Elas têm um modo de vida coletivo, os territórios habitacionais podem ser de difícil acesso e muitas vezes existe a necessidade de percorrer longas distâncias para acessar os cuidados de saúde. Com isso, essa população se torna mais vulnerável à doença, podendo evoluir para complicações e óbito.”

São José da Tapera, distante 180 quilômetros de Maceió, possui uma população de 2.211 povos tradicionais quilombolas, segundo estimativas do IBGE. De acordo com o governo federal, 552 deles já foram imunizados com a primeira dose (22%). Aline Teixeira, secretária municipal de Saúde, explica que a imunização desse público segue o Plano Estadual de Vacinação Contra a Covid-19. Os quilombolas estão sendo vacinados nas unidades básicas de saúde por faixa etária e comorbidades de acordo com a chegada das doses da vacina. Além disso, o município vem apostando na estratégia do Dia D, com o objetivo de incentivar o máximo de quilombolas a se vacinarem.  

“Nosso calendário de vacinação já foi iniciado e também nós já iniciamos as programações do Dia D para vacinação exclusiva deste público. Nós tivemos vacinação do Dia D de 23 e 26 de abril e estamos marcando outros dia D para tentarmos atingir um percentual maior desse público”, explicou Aline.

Ainda segundo a coordenadora da pasta, trabalhos de conscientização estão sendo realizados nas comunidades para incentivar a população a não abandonar as recomendações de segurança e todas as medidas de higiene. Ela destaca que a máscara continua sendo um item obrigatório, mesmo para aqueles que já tomaram as duas doses da vacina. 

“Até depois de tomar a vacina, com certeza, nós mantemos os protocolos sanitários de vacinação. Sempre fazendo a obrigatoriedade do uso de máscaras, a lavagem das mãos, com também o uso do álcool em gel, manter o distanciamento social e evitar as aglomerações nas comunidades.”

 

Depoimentos

O Ministério da Saúde orientou a vacinação aos Povos Indígenas, Povos e Comunidades tradicionais Ribeirinhas e Quilombolas como grupo prioritário, respeitando o fato de que a forma de viver dessas populações os tornam mais vulneráveis a contaminação por covid-19, sendo que a transmissão de vírus nestas comunidades tende a ser intensa pelo grau coeso de convivência. Considerando o acesso a saúde por muitas vezes limitado por estas comunidades, a vacinação tem um efeito protetor altamente efetivo de evitar múltiplos atendimentos por demanda devido especificamente a Covid-19.

É o caso de Valdeano de Melo, de 41 anos, morador do Quilombo de Caboclo, na zona rural de São José da Tapera. O vigilante escolar conta que a sua comunidade não tem acesso a água potável e muitos moradores não conseguem seguir as medidas de higiene básica, fundamentais para conter a proliferação do coronavírus. 

“A gente não tem acesso a água encanada diariamente, quando chega é um ou dois meses durante o ano. Não temos acesso a saneamento básico, então isso dificulta muito nesse sentido de higienização. [A vacina] ajuda muito porque a comunidade até por ser um pouco isolada, mas, estando vacinada, vai garantir uma imunidade no nosso povo”, relata o quilombola.

Valdirene Maria da Silva, presidente da Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombo de Caboclo, disse que mais de 70% da sua comunidade está imunizada. “Eu tenho esperança que essa pandemia passe logo. E estou muito feliz porque mais de 70% da comunidade está imunizada. As pessoas estão aceitando bem a vacinação e isso já é um passo à frente. É sinal de que o pessoal não vive mais na ignorância de ter a rejeição de nossa vacina, porque vacina é vida”, alerta. 

Distribuição das vacinas

Segundo dados do Ministério da Saúde, disponibilizados no LocalizaSUS, os municípios da Microrregião de Santana do Ipanema receberam mais de 68 mil doses de vacinas contra Covid-19, sendo: 17.769 para Santana do Ipanema, 10.866 para São José da Tapera, 9.613 para Pão de Açúcar, 5.779 para Poço das Trincheiras, 4.778 para Senador Rui Palmeira, 4.385 para Ouro Branco, 4.286 para Dois Riachos, 4.587 para Maravilha, 3.366 para Carneiros e 3.227 para Palestina.

Proteja-se

Se você sentir febre, cansaço, dor de cabeça ou perda de olfato e paladar procure atendimento médico. A recomendação do Ministério da Saúde é que a procura por ajuda médica deve ser feita imediatamente ao apresentar os sintomas, mesmo que de forma leve. Após a vacinação, continue seguindo os protocolos de segurança: use máscara de pano; lave as mãos com frequência com água e sabão ou álcool 70%; mantenha os ambientes limpos e ventiladores e evite aglomerações. 

Os quilombolas são prioridades no calendário nacional de imunização do Ministério da Saúde. Valdirene destaca a importância da imunização das comunidades. “Porque vidas negras importam. E quilombola é luta, é resistência. Eu peço aos meus irmãos quilombolas, de luta, de guerra, que abram a mente e que aceitem a vacina, porque vacina é vida. Vacina, sim!”. 

Serviço

Quilombolas que vivem em comunidades quilombolas, que ainda não tomaram a vacina, devem procurar a unidade básica de saúde do seu município. Para outras informações, acesse o site das prefeituras de São José da Tapera, de Santana do Ipanema ou de Poço das Trincheiras. A vacina é segura e uma das principais formas de se proteger contra o novo coronavírus. Fique atento ao calendário de imunização do seu município. Para saber mais sobre a campanha de vacinação em todo o país, acesse gov.br/saude.

Veja como está a vacinação Quilombola no seu município

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