Pela manhã a equipe teve o direito de dormir um pouco mais. Saímos de Teresina às 9h e o sol a pino veio acompanhado de muitos relaxantes musculares para aliviar o esforço da trilha anterior. A ideia de conhecer um balneário próximo a Teresina (e que não exigia muito trekking) já nos empolgava.

A saída foi pela BR 316 e, por conta do horário, pegamos pouco congestionamento. Foram 60 km percorrendo estradas sem buracos, mas dividindo espaço com muitos caminhões conseguimos chegar ao município de Monsenhor Gil. De cara a ausência de água no Balneário Natal, porta de entrada do município, nos deixou preocupados: será que o Poço Azul está com água corrente? Esse é o desafio dessa reportagem: encontrar locais onde a água vence a estiagem e preserva tesouros!

Monsenhor Gil - Dennis Arias

Antes de descobrirmos, era importante conhecer um pouco mais das curiosidades de Monsenhor Gil que iniciou com um povoado e teve as terras doadas por um religioso, nascido no local e que foi homenageado com o nome da cidade.

Em frente a igreja é possível facilmente ver a Casa Paroquial, um prédio onde funcionou uma antiga fazenda. Essa é a nossa bússola: pegar a estrada que passa entre as duas casas religiosas.

Placa que indica o Poço Azul em Monsenhor Gil - Trilhas do PiauíA partir daí seguimos até alcançarmos a estrada de terra num percurso médio de 5 km. O local é inspirador ao imaginar que centenas de peregrinos passam por ali em romarias para chegar a Santa Cruz dos Milagres. Mas nosso caminho é mais curto e, ao chegar na placa com indicação do Povoado Furtuoso, dobramos à direita. Após isso, seguimos até atravessar os povoados Nova Olinda e Monte Belo por um caminho contornado de eucaliptos.
 
Nesse caminho já castigado pela estiagem que deixou árvores mortas e riachos secos, atravessamos uma porteira e logo chegamos ao entroncamento com a fazenda do vaqueiro Francisco Gomes, conhecido como “Chiquinho da Iracema”. Com 89 anos, 13 filhos (e um número de netos que ele não conseguiu lembrar), o senhor é dono de 66 hectares de terra. É na propriedade dele que estão os principais olhos d’água que alimentam o poço azul.

Senhor Hipólito em Monsenhor Gil - Trilhas do Piauí

“Cheguei aqui num dia que não esqueço: 15 de junho de 1965. Juntei o dinheiro que ganhei cuidando dos gados da fazenda e comprei a terra por dez contos de réis. Tive que vender dez cabeças de gado pra juntar o dinheiro”; contou todo empolgado o senhor Francisco Gomes.

E já bem próximo dos olhos d’água chegamos finalmente ao Poço Azul. Surpreende a cor azulada que a água possui e que fica mais evidente ao meio-dia, quando o sol avança a sombra das palmeiras no entorno para abraçar diretamente a água do riacho.

Poço Azul em Monsenhor Gil - Trilhas do Piauí

Próximo do leito percebemos que muitos mochileiros escolhem o local para acampar, mas deixam também garrafas e vários lixos espalhados. Por lá também foi construído um bar. A conscientização para manter tudo limpo é mais do que necessária!

Também descobrimos outra curiosidade: a presença farta de fósseis de plantas. São frutos e caules preservados há muito tempo. “As pedras contam uma história. Elas têm até um milhão e meio de anos e mostram frutos e galhos de árvores fossilizados, uma prova que aqui foi uma grande floresta pré-histórica”, contou o pesquisador Josimar Venção.

Poço Azul em Monsenhor Gil - Trilhas do Piauí

 

É mesmo difícil não deixar o Poço Azul com a sensação de tudo renovado!